"A concretização do metaverso depende da massificação das realidades imersivas", diz Rodrigo Terra, da Arvore

Rodrigo Terra, fundador e chief technology evangelist da Arvore Immersive Experiences, ganhadora de diversos prêmios com seus jogos e experiências imersivas, incluindo o primeiro Primetime Emmy do Brasil em Inovação Extraordinária com "A Linha", participou nesta segunda-feira, dia 23 de maio, do Brasil Streaming 2022 para falar sobre metaverso – que, para ele, pode ser definido como a convergência entre a internet, estando em tudo ao nosso redor, com a realidade virtual e aumentada. "Mas não estamos vivendo o metaverso ainda. Estamos no começo, na fundação do que será esse possível metaverso. O próprio Mark Zuckerberg fala muito isso, que o metaverso é uma construção que precisamos fazer", ressalta. 

Para o especialista, a concretização do metaverso virá quando tivermos uma massificação das realidades imersivas. "Tem a ver com a ideia de presença, isto é, com camadas interagindo comigo da mesma forma que eu interajo no mundo físico", explica. Terra pontua ainda que o conceito do metaverso traz uma continuidade de tudo aquilo que vem sendo construído nas últimas décadas em termos de telecom, conteúdo, games, audiovisual e experiência do usuário. "Estamos evoluindo os caminhos que trilhamos até aqui. Metaverso não é revolução, e sim evolução. Agora, o que vamos adicionar, que aí sim será uma mudança de paradigma, é a chegada de aparelhos que vão substituir coisas que temos no dia a dia. Assim como aconteceu com os smartphones no passado. Depende da materialização das tecnologias. Aí sim, com a criação de novos produtos e a massificação dos mesmos, começaremos a ver uma transformação real. Enquanto isso não acontecer, ainda estaremos nesse período de fundamentar o metaverso. Foi a mesma coisa que aconteceu com a internet – ela só revolucionou mesmo quando o PC começou a ir para a casa das pessoas", exemplifica. "Acreditamos que agora caminharemos para um novo desafio, que é a criação de novas experiências em novas plataformas que, no futuro, vão ser mais imersivas, conectadas, interoperáveis e descentralizadas", completa. 

Acesso como barreira principal 

Se o streaming evoluiu conforme algumas barreiras foram quebradas, como a massificação da banda larga, por exemplo, o metaverso também precisa superar obstáculos para, de fato, acontecer. Entre eles, Terra menciona a questão do acesso – que segundo ele, numa ordem de prioridade, viria em primeiro lugar: "E isso não só no Brasil, mas em diversos países do mundo também. O acesso ainda é restrito em relação à distribuição de headsets e preços. O smartphone mesmo só promoveu mudanças efetivas no comportamento e na sociedade quando ele barateou, massificou e evoluiu em termos de interface e usabilidade. É interessante ver como evoluem tecnologias, comportamentos e consumo de conteúdo. Quando você olha para realidades imersivas, ainda é questão de acesso. Estamos na gênese de narrativas e formatos para realidade imersiva e para o próprio metaverso. Outro pulo que temos que dar é em relação a como vamos trabalhar dentro de um contexto espacial". 

Convergência de universos 

Para o especialista, o cenário de convergência – entre os universos de séries, filmes, games, realidades imersivas – já existe. A própria Netflix, por exemplo, já tem a possibilidade de baixar jogos e instalar no aparelho pessoal do usuário. "O caminho é para que possamos abrir um único app e, ali, ter tudo reunido, para ser consumido ao mesmo tempo. Não é um modelo 100% novo – empresas brasileiras, como a PlayKids, já fazem isso há muito tempo, isto é, trabalhar com esse formato de 'super aplicativo' em relação a formatos de entretenimento. Aí, dentro do mesmo layout, quem decide como vai navegar é o próprio usuário, de acordo com seus gostos e o momento em que está no dia. Não é nada disruptivo, mas acho que a convergência começará no momento em que não teremos que instalar nada. Da mesma forma que o streaming fez uma revolução nas coleções das pessoas – de discos, CDs, DVDs – vejo isso acontecendo com os games. Então teremos um grande cenário de convergência e mudança", analisa. 

"A partir daí, veremos cada vez mais serviços competindo entre si – como Netflix e Amazon concorrendo com o Xbox, por exemplo. Mas para isso, é muito importante que o 5G tenha amplo alcance. O que aconteceu com a música e depois com o audiovisual vai acontecer com os games também. Nesse sentido, entra mais uma questão – se poderemos consumir tudo a toda hora,  o que iremos consumir? Passa novamente pelo ponto da economia de atenção", menciona. 

Segundo a pesquisa mais recente da PGB, 74,3% da população joga alguma coisa. É uma parcela bem expressiva, o que faz com que, no futuro, tenhamos gerações que têm mais os jogos do que os conteúdos audiovisuais como repertório cultural. Diante desse cenário, Terra questiona como as plataformas de streaming vão evoluir. "Um caminho possível será a criação de estúdios de games dentro das empresas. Estamos vendo ainda grandes estúdios fazendo movimentos de aquisição de propriedades intelectuais. Faz parte de preparar o terreno para esse 'ter tudo junto' que estamos falando. A convergência já acontece, temos cases de sucesso que comprovam, mas quando tivermos tudo junto, dentro de um ambiente de streaming, aí sim teremos uma convergência completa", afirma. 

Possibilidades de monetização 

A monetização no metaverso passa por modelos de assinatura e publicidade. "Tem muita gente buscando entender novos modelos para ter uma melhor perfomance. Ainda não tem como escapar dessas possibilidades, mas enxergo uma terceira via, que é o marketplace, com os próprios usuários criando conteúdos e, assim, sendo também uma forma de rentabilização que sustente as plataformas. É colocar o usuário na conta não só como pagador, mas como gerador. Temos que ter uma fonte geradora. Se ela virá dos próprios usuários, não sabemos, ainda estamos debatendo", diz. "Mas, falando em publicidade, temos que repensá-la. Não é só colocar um banner dentro de um jogo. É necessário decodificar o que precisa ser feito – e não é uma questão simples. Não se trata de conteúdo passivo publicitário, e sim de algo que ainda agregue valor. Acredito em envelopar experiências de entretenimento e, assim, fazer com que a publicidade vire conteúdo também", reforça. "Já o modelo de assinatura continua, desde que haja facilidade de escolha, isto é, poder assinar ou cancelar de forma simples e rápida. Hoje estamos passando por um momento de confluência de modelos de monetização para pagar essa conta, mas precisamos olhar para as pessoas, pois elas podem ajudar a gerar recursos dentro das plataformas", conclui. 

Conteúdo como gerador de valor 

Para Terra, nesse momento de evolução, quem vai drivar é o conteúdo. "Construir uma ferramenta de monetização sem ter o que monetizar é muito mais complicado. O conteúdo, assim como foi pro streaming de audiovisual, é muito importante para dar o ponto de virada. Ele continua sendo gerador de valor. Temos que criar maneiras de monetizar só depois que entendemos o que as pessoas querem consumir enquanto conteúdo. Os players devem investir na experimentação de conteúdo. Isso vai continuar a conversa sobre o futuro do metaverso", aponta. "O momento é de pesquisa, desenvolvimento e investimento em conteúdo", finaliza. 

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