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No NE, Bolsonaro usa termo 'cabeça chata' para se referir ao sogro cearense

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

09/02/2022 11h54Atualizada em 09/02/2022 17h16

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a usar um termo depreciativo para se referir à população do Nordeste, em especial os cearenses. Na tentativa de criar laços de proximidade com os eleitores da região — onde ele possui alto índice de rejeição —, o governante voltou a dizer que a filha caçula, Laura, "tem em suas veias também sangue de nordestina".

Segundo ele, a primeira-dama, Michelle, é filha "de um cabra da peste, de um cabeça chata, de um cearense". A declaração ocorreu durante visita à barragem de Oiticica, na cidade de Jucurutu (RN), empreendimento que vai receber as águas do eixo Norte do projeto de transposição do rio São Francisco.

Com viés preconceituoso, a expressão "cabeça chata" é tradicionalmente utilizada para zombar da população cearense, sem base na realidade. Essa não foi a primeira vez que Bolsonaro se referiu dessa forma à população daquele estado. Em live realizada em janeiro de 2020, o chefe do Executivo federal afirmou que, no Ceará, "todo mundo é cabeçudo".

Bolsonaro tem acumulado manifestações de cunho racista e/ou preconceituoso em relação aos nordestinos desde que tomou posse, em janeiro de 2019. Na semana passada, houve novo episódio que gerou ampla repercussão negativa: o político se dirigiu a assessores nordestinos que o acompanhavam em uma live como "pau de arara".

Ao comentar a revogação de mais de duas dezenas de decretos de luto oficial, Bolsonaro também errou o estado de nascimento do líder religioso Padre Cícero (1844-1934). "Dadas as nossas revogações, feitas há pouco tempo, falaram que eu revoguei o luto de Padre Cícero, lá de Pernambuco". Na verdade, Padre Cícero nasceu no estado do Ceará.

O presidente ainda cometeu outro equívoco. Entre os decretos de luto revogados por ele, não consta o do líder religioso. "É isso mesmo? De que cidade fica lá?", questionou o presidente a assessores que estavam na sala de transmissão. "Está cheio de pau de arara aqui e não sabem que cidade fica padre Cícero?".

Auxiliares, então, responderam Juazeiro do Norte e corrigiram Bolsonaro, apontando que o município fica no estado do Ceará. "Dada aquela confusão toda, começaram, a esquerda, a oposição, [a dizer:] 'Olha só, eu não tenho respeito com Padre Cícero'", afirmou Bolsonaro.

"Pau de arara" são caminhões adaptados para transportar passageiros em sua carroceria de forma irregular. Foram muito usados nas migrações do Nordeste para a região Sudeste no século passado, principalmente para o estado de São Paulo.

Professores de ciências humanas ouvidos pelo UOL avaliam que o uso do termo remete a um histórico preconceito ao Nordeste e ao nordestino pelo menor grau de de desenvolvimento que a região teve ao longo de décadas —e por isso mesmo não deveria mais ser usado.

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'Somos um só povo', diz Bolsonaro

Bolsonaro resgatou hoje uma de suas estratégias da campanha eleitoral de 2018, ano em que foi eleito presidente, para defender que "a velha política" seria responsável por separar os brasileiros. Na visão dele, a defesa dos direitos de minorias e a preservação de questões identitárias seriam uma política lesiva à população.

"Não podemos continuar a fazer a velha política de há pouco tempo de separar nortista de sulista, branco de negro, homo de hétero, pais de filhos... Não, somos um só povo. Uma só raça. Temos tudo para ser uma grande nação e seremos uma grande nação."

Bolsonaro tem se movimentado para enfrentar a resistência do eleitor nordestino e, nesse sentido, passou a reivindicar os méritos, de forma isolada, por projetos e obras que ficaram conhecidas como "marcas" da gestão de seu principal desafeto, o PT. Ele vai medir forças com o adversário em outubro deste ano, quando deverá enfrentará nas urnas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"É uma satisfação muito grande estar aqui no meu Nordeste", disse hoje o atual chefe do Executivo federal, que será candidato à reeleição.

"Como todos vocês sabem, a cidade que tem mais nordestinos no Brasil é São Paulo. Vocês estão em todas as regiões do Brasil."

O presidente também voltou a defender as ações do governo federal durante a pandemia e declarou que "não errou nenhuma" durante a crise sanitária, cujo início, no Brasil, se deu entre fevereiro e março de 2020 (período em que o coronavírus começou a se espalhar).

"Eu não errei nenhuma durante a pandemia. Fui atacado covardemente o tempo todo, mas a decisão de conduzir a questão da pandemia, segundo decisão do STF, foi para governadores e prefeitos."

A decisão do STF deu autonomia a governadores e prefeitos, mas não isentou o governo federal de agir no combate à pandemia. O entendimento do Supremo foi de que a competência para tanto era compartilhada entre os diferentes níveis do poder público.