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Por Gustavo Brigatto — De São Paulo


Renato Valente: esticar para 18 ou 24 meses o que era para gastar em 12 — Foto: Divulgação
Renato Valente: esticar para 18 ou 24 meses o que era para gastar em 12 — Foto: Divulgação

Nas últimas semanas, os fundos de venture capital brasileiros têm conversado com as empresas de seus portfólios em um tom que era inimaginável não muito tempo atrás: desacelerar o ritmo de gasto de recursos. “A ordem é zerar a queima de caixa e voltar ao equilíbrio entre receitas e despesas até passar a tempestade”, diz João Kepler, da Bossa Nova Investimentos.

Nesse cenário, quem tinha um planejamento de gastar dinheiro em 12 meses, precisa “esticar” o orçamento para 18 meses ou até mesmo 24 meses, em preparação para um período em que novas rodadas de investimento ficarão restritas, diz Renato Valente, diretor-geral da Wayra, braço de investimento em startups em estágio inicial de desenvolvimento do grupo espanhol Telefónica. “Quem não conseguir fazer isso terá bastante problema”, diz.

Segundo Pedro Sirotsky Melzer, que comanda a e.Bricks, as 34 empresas do portfólio têm tomado medidas como renegociação de contratos, reversão de pagamento de executivos em participação acionária, congelamento de contratações e mesmo demissões.

O corte de pessoal, aliás, já atingiu nomes de peso do mercado. A Gympass, que ano passado recebeu um aporte da SoftBank e se tornou um unicórnio - companhia avaliada em mais de US$ 1 bilhão - sofreu com o fechamento de academias e reduziu seu quadro em algo perto de 30%. Já a MaxMilhas, impactada pela parada no setor de viagens, encolheu a equipe em mais de 40%.

Sobre novos investimentos, Valente diz acreditar que eles vão continuar acontecendo, mas que a avaliação dos negócios ficará mais criteriosa. A Wayra recentemente ampliou o valor aportado nas companhias de R$ 500 mil para R$ 1 milhão. “Não vou colocar dinheiro sem saber muito bem como o fundador pretende passar por este momento”, diz.

Outro fator que vai mudar é o valor atribuído às empresas. A expectativa é que a redução nos preços seja superior a 20%, podendo chegar a 50%. “Vamos voltar aos níveis de 2017”, diz Marcello Gonçalves, sócio da Domo Invest. Para ele, não há risco de falta de recursos porque muitos investidores ainda têm interesse em colocar dinheiro em venture capital e os principais fundos têm recursos para aplicar.

A Domo fechou uma primeira captação de seu novo fundo de investimento em empresas que atendem outras empresas no começo de março, com cerca de R$ 60 milhões. A segundo está prevista para o segundo semestre.

O investimento em venture capital vinha crescendo em ritmo acelerado no Brasil nos últimos anos tanto em termos de volume de recursos aplicados quanto de número de negócios fechados. Segundo a Associação Latino-Americana de Private Equity & Venture Capital (Lavca) as empresas brasileiras levantaram US$ 989 milhões em 88 operações no primeiro semestre de 2019. Os números do segundo semestre ainda não foram fechados, mas o período teve anúncios relevantes como o aporte de US$ 140 milhões do SoftBank na Vtex, de comércio eletrônico.

Entre janeiro e fevereiro, o ritmo continuava acelerado. Um levantamento feito pelo Valor mostra que na soma de janeiro e fevereiro foram 41 novas rodadas de investimento ou venda de empresas que tinham fundos de venture capital como sócios. Em março, foram 12 operações. Na semana passada, não houve nenhum anúncio.

Isso não quer dizer que novos negócios não estejam sendo concluídos. A Domo Invest fechou um acordo na semana passada dentro FIP Anjo, fundo de investimento em participações com R$ 60 milhões de recursos do BNDES gerido por ela. Ontem, a Petlove anunciou ter recebido uma rodada de R$ 250 milhões liderada pelo SoftBank. “Os fundos precisam alocar recursos [é o compromisso com os investidores]”, diz Richard Zeiger, sócio da MSW Capital. Mas a tendência é que o número de conversas novas caia com os gestores dos fundos dedicando mais atenção às empresas nas quais já investiram.

Na China, os negócios estão voltando a ocorrer depois de um congelamento por conta das medidas de combate ao novo coronavírus entre janeiro e fevereiro. Na semana encerrada em 28 de março foram 66 operações, o maior volume do ano, segundo a PitchBook, que acompanha os mercados de venture capital e private equity no mundo. A empresa alerta que ainda não dá para comemorar porque uma segunda onda de contágio pode atingir o país e trazer de volta medidas de quarentena, travando o fluxo de negócios novamente.

O movimento de contenção de gastos é inverso ao que vinha sendo a praxe entre os investimentos em venture capital nos últimos anos. A lógica que imperava era captar o máximo de recursos possível para financiar a contratação de pessoal, marketing e o desenvolvimento de produtos que, em algum futuro, seriam relevantes em seu respectivo mercado, garantindo retornos aos investidores.

A racionalidade já começava a aparecer depois do fiasco da abertura de capital do We Work, e a revisão da estratégia de investimento do SoftBank, mas o excesso de liquidez ainda deixava no ar a preocupação com a possibilidade de existência de uma bolha. Isso agora parece ser página virada. “Essa loucura de queima de caixa, esse mundo acabou. Não existe mais isso”, diz Melzer, da e.Bricks.

Para Humberto Matsuda, gestor de venture capital da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), o momento pode ser positivo para os fundos de investimento. Isso porque, com a queda nos preços das empresas e a possibilidade de reduzir custos operacionais, os retornos futuros para os cotistas podem melhorar bastante.

Já Luiz Guilherme Manzano e Alexandre Mello, sócios do fundo Big Bets, que começou a operar em 2018 e investiu em quatro empresas, consideram que boas oportunidades tendem a surgir à medida que vários problemas da sociedade ficaram aparentes durante a pandemia e precisarão ser corrigidos. As companhias novatas podem criar essas respostas.

Para Mello, “as startups já estão entrando em modo de achar oportunidades, enquanto negócios tradicionais estão se organizando ainda”.

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