Depois de fazer dez aportes em startups brasileiras ao longo de 2019, o grupo japonês SoftBank seguirá investindo no País ao longo de 2020. Segundo André Maciel, líder da operação brasileira da empresa, o fundo latino do conglomerado fará menos investimentos no ano que vem, mas trará cheques maiores em suas rodadas de aporte. Segundo o executivo, já foram realizados 19 investimentos na América Latina, mas apenas 14 deles foram revelados no mercado. "Aportamos entre R$ 6 bi e R$ 10 bi até agora", disse Maciel. É apenas uma fração dos US$ 5 bi que a empresa destinou para seu fundo latino, revelado ao mercado em março.
Segundo o executivo, há recursos destinados para novos aportes em startups que já fazem parte do portfólio do fundo (prática conhecida como follow-on no mercado). "É o melhor tipo de investimento, porque normalmente significa que as empresas já têm modelo provado e só precisam de mais capital", afirmou ele, durante evento com jornalistas realizado pela empresa na manhã dessa sexta-feira, 13, em São Paulo. De acordo com Maciel, o SoftBank já analisou mais de 300 empresas no mercado latino. Destas, 15 chegaram a uma análise mais profunda (due dilligence, no jargão do mercado), mas não chegaram a fechar um acordo com o grupo japonês.

Durante o evento, Maciel admitiu que o fundo "já realizou seus aportes mais óbvios, mas não fizemos ainda nossos maiores cheques." "Ainda não sabemos como será o portfólio, porque temos cinco anos para investir. Esperamos mortalidade de algumas empresas, o que é natural, mas vamos manter o ritmo de investimentos", afirmou.
A maior rodada da qual o SoftBank participou foi a de US$ 1 bilhão na startup colombiana Rappi, realizada em abril deste ano. Além dela, o grupo já investiu nas brasileiras Loggi, Creditas, QuintoAndar, Gympass, Buser, Olist, Vtex, MadeiraMadeira, Volanty e Banco Inter, bem como nas mexicanas Clippy e Konfío e na fintech argentina Ualá.
Dificuldades
Se na América Latina o clima do SoftBank é de otimismo, com investimentos nas startups da região, o mesmo não se pode dizer do que acontece no mundo – recentemente, o grupo japonês teve de desempenhar US$ 10 bilhões para socorrer a operação do WeWork, que entrou numa crise após seu prospecto de abertura de capital não ser aceito pelo mercado.
Líder do fundo latino do SoftBank, Marcelo Claure teve de assumir a presidência do conselho da startup de escritórios compartilhados após a crise. "Ele tem um monte de trabalho", disse Maciel. Mas o líder brasileiro do SoftBank não vê a empresa desanimando após o tropeço. "O We Work é um dos maiores desafios que nós temos atualmente, houve erros e lições a serem aprendidas. Mas é preciso entender que, na média, o empreendedor vai sempre contra as normas."
De acordo com o executivo, outro desafio que a companhia precisa superar é a falta de desenvolvedores e programadores experientes no Brasil. "Conseguimos encontrar profissionais iniciantes, mas falta quem suporte a construção de arquitetura de tecnologia de uma empresa", comentou Maciel. Também presente no evento, o presidente executivo da Gympass no Brasil, Leandro Caldeira, concordou: "criamos nosso hub de inteligência artificial em Nova York por conta disso".